Itapiranga investe no turismo para contar sua história

Itapiranga, no Extremo Oeste de Santa Catarina, vem aos poucos conquistando espaço no turismo de experiências. Longe dos grandes centros, a cidade encontrou nas suas raízes e na natureza ao redor uma forma de se apresentar ao visitante. Localizada na divisa com o Rio Grande do Sul e próxima da fronteira com a Argentina, Itapiranga não é só conhecida por ser o Berço Nacional da Oktoberfest. Hoje, também é destino para quem busca descanso, aventura e contato com as tradições germânicas.

"Estamos trabalhando já desde o começo do meu primeiro mandato e continuamos trabalhando, e a gente nota um crescimento importante", destaca o prefeito Alexandre Ribas. Segundo ele, Itapiranga já recebe cerca de 3,5 mil visitantes externos por mês, número que reflete o interesse crescente pelas atrações locais.

Com cerca de 17 mil habitantes, o município tem na agricultura sua principal base econômica. Mas o turismo, especialmente o rural e o cultural, vem crescendo com apoio de moradores, empreendedores locais e da prefeitura. Igrejas centenárias, mirantes, trilhas, passeios de rafting e agroturismo fazem parte de um roteiro que mistura fé, história e lazer ao ar livre.

ATRATIVOS

A cidade também aposta na gastronomia como atrativo. Cafés coloniais, padarias com receitas típicas e propriedades que oferecem refeições caseiras têm conquistado o paladar de quem chega. Os finais de semana costumam ser embalados por bailes e festas comunitárias, comuns nas 27 comunidades que compõem o município.

Com 3,5 mil visitantes por mês, Itapiranga aposta em turismo rural, Oktoberfest e história viva Créditos: Prefeitura de Itapiranga 

"Itapiranga também conta com muitas belezas naturais, principalmente ligadas ao Rio Uruguai e ao Rio Peperi, que fazem uma espécie de contorno em volta do município", comenta o prefeito. Esses rios impulsionam atividades como o turismo de aventura e a pesca esportiva, quando não há restrições ambientais.

"Itapiranga também conta com muitas belezas naturais, principalmente ligadas ao Rio Uruguai e ao Rio Peperi, que fazem uma espécie de contorno em volta do município", comenta o prefeito. Esses rios impulsionam atividades como o turismo de aventura e a pesca esportiva, quando não há restrições ambientais.

CAMINHOS DA FÉ E DA CULTURA 

Um dos destaques do turismo local está na arquitetura religiosa. A Igreja Matriz São Pedro Canísio, no centro, e outras capelas espalhadas pelo interior chamam atenção pela imponência e preservação. A Gruta Rainha da Paz é outro ponto que atrai visitantes em busca de introspecção. O roteiro das igrejas compõe uma parte importante da vivência cultural de Itapiranga, que também abriga espaços como o Memorial Oktoberfest e o Centro Histórico Germânico.

Créditos: Prefeitura de Itapiranga 

A religiosidade, muito presente na colonização alemã católica que começou por volta de 1926, ainda move celebrações e encontros em diversas localidades. Com o tempo, o que era prática religiosa virou também atrativo turístico. Os espaços são abertos à visitação e compõem o chamado roteiro cultural do município.

Nas escolas, grupos de dança folclórica e corais ajudam a manter viva a cultura dos imigrantes. São 15 grupos ativos de dança e 12 corais, alguns com décadas de existência. Além disso, a cidade realiza todos os anos, desde 1978, a Oktoberfest, reunindo milhares de visitantes. "Vale lembrar que Itapiranga é o berço nacional da Oktoberfest. Então temos toda essa tradição germânica muito forte", reforça o prefeito.

NATUREZA COMO CENÁRIO E TRILHA

O Rio Uruguai, que acompanha o território de Itapiranga, ajuda a moldar a paisagem e oferece oportunidades para atividades como rafting e pesca esportiva. O rio também marca a divisa natural entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. A oeste, o Rio Peperi-Guaçu separa o município da Argentina. Esses cursos d'água desenham o relevo e criam mirantes naturais, como o do Rio Peperi-Guaçu e o Bela Vista, de onde se pode observar curvas do rio e parte da vegetação nativa.

Propriedades rurais abertas ao turismo também oferecem trilhas, passeios com pequenos animais, visitas a plantações e produção artesanal de alimentos. Um exemplo é o Stoffel Turismo Rural, que combina atividades educativas com culinária típica. Outros nomes como o Recanto Sete Lagoas, Sítio Vivenda Verde e Eco Lazer Eyerkaufe também fazem parte do roteiro de quem busca tranquilidade.

"Nos últimos anos, surgiram vários empreendimentos relacionados a cabanas em locais estratégicos, que atraem visitantes pelas paisagens maravilhosas", destaca Ribas. Um exemplo é o observatório do Rio Uruguai, que oferece uma vista privilegiada do entorno.

A diversidade da fauna e flora é valorizada em trilhas como a Becker Bach e a das Pedras, ambas com sinalização e paisagens preservadas. Quem prefere bicicleta pode percorrer as rotas de cicloturismo que cruzam a zona rural, com trechos de diferentes dificuldades.

HISTÓRIA QUE ATRAVESSA GERAÇÕES 

A história da cidade começa antes da chegada dos primeiros colonos. Estudiosos identificaram ao menos 53 sítios arqueológicos às margens do Rio Uruguai, com presença de urnas funerárias indígenas conhecidas como igaçabas. Os achados reforçam a presença ancestral de povos tupis-guaranis na região.

Belezas naturais e paisagens únicas fazem parte do roteiro de turismo de aventura e ecoturismo de Itapiranga Créditos: Prefeitura de Itapiranga

Já a colonização registrada oficialmente começou em 1926, com famílias de descendentes alemães vindas do Rio Grande do Sul. A primeira foi a Dungersleben, que enfrentou dificuldades com doenças e adaptação ao novo território. Em 1929, a região recebeu o nome de Itapiranga, palavra tupi-guarani que significa "pedra vermelha". Em 1954, foi oficialmente emancipada.

O Centro Histórico Germânico de Itapiranga, inaugurado em 2021 e idealizado por Inácio Oswald, é "uma joia rara", segundo o prefeito Alexandre Ribas. Primeiro do tipo no Oeste catarinense, abriga edificações típicas e o Museu dos Suínos, que preservam a memória da colonização alemã. O espaço destaca a imigração, trabalho, religiosidade e o desenvolvimento local, além de preparar novas atrações como uma trilha ecológica e o Museu do Suíno.

Para os moradores, manter viva essa memória é também uma forma de fazer com que o turismo seja mais que uma atividade econômica - seja também uma maneira de partilhar identidade.

TURISMO DE ENCONTRO E PERMANÊNCIA 

Além das festas e pontos turísticos, Itapiranga aposta no calendário para atrair visitantes o ano todo. No primeiro sábado de cada mês acontece o "Dia D Deutschland", com gastronomia típica, apresentações culturais e atividades na Praça da Figueira. Restaurantes e padarias oferecem pratos especiais, e o comércio local participa com promoções e vitrines temáticas.

No encontro do rio com a história, Itapiranga revela suas paisagens que emocionam Créditos: Prefeitura de Itapiranga

A ideia é fazer com que o turismo não seja algo apenas sazonal, mas uma parte constante da vida da cidade. O Centro de Atendimento ao Turista, ligado à prefeitura, orienta quem deseja conhecer o município e os roteiros disponíveis.

"É interessante ver essa vocação do município nas diversas vertentes do turismo", avalia Ribas. Atualmente, ele também preside a Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina (AMEOSC), que articula o projeto Caminhos da Fronteira.

"Nosso objetivo é levar essa identidade local para todo o estado de Santa Catarina e também em nível nacional", diz. "Esse projeto envolve pelo menos 19 municípios - de Itapiranga, aqui em um extremo, até Dionísio Cerqueira, no outro. Também contamos com Palma Sola, fechando esse triângulo importante."

Aos poucos, a cidade vai se consolidando como um destino que une simplicidade e história, natureza e cultura. Um lugar onde o tempo parece passar mais devagar - o suficiente para ouvir o som dos rios, sentir o cheiro da comida feita no fogão a lenha e se conectar com a memória viva de quem construiu Itapiranga com as próprias mãos.

Fonte: Diário do Iguaçu